quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Avantesmas


Ao entrar... depois de dar três passos... nossa! Assustei! Um ambiente sinistro mesmo, olha... bota sinistro nisso! Uma sala que parecia maior de dentro do que olhando de fora, pois a sensação que eu tinha é que estava em outro lugar, não era possível! Larga, praticamente vazia, com apenas uma mesa no fundo, onde se postava Bento sentado, segurando algo que não consegui identificar, nas mãos. 

Um frio... mas não notei aparelhos de ar condicionado... nem janelas! Caraca! Pensei. Onde é que fui amarrar meu burro... e enquanto pensava isso vi ao longe o olhar do Bento, inquisidor! Teria voltado, não fosse o fato de que ouvi o barulho da porta se fechando sozinha atrás de mim e senti o medo tomar conta do meu corpo... interessante o medo! Faz a gente ficar pleno de adrenalina... o coração bate mais forte, a sudorese se manifesta e a gente começa a pensar mais rapidamente. Se arrependimento matasse, eu já estava enterrado. Mas, vai lá... tudo bem, Marc era um bom amigo, valia a pena o sacrifício! Peraí, mas tem um limite! Devia ter deixado o cara alucinar sozinho, quem sabe, com o tempo, ele melhorava. Mas aí bate a consciência e a gente se vê na obrigação de ajudar o amigo. Só lembro que comecei a rezar em silêncio como não fazia há muito tempo... então ouvi:

- Ele já está consciente?!
- Como é que é?! - falei, assustado por ter ouvido a voz do Bento sem que ele abrisse a boca para falar! 
- O processo é irreversível! Agora ele precisa assumir e arranjar um local para trabalhar!
- Trabalhar?! - perguntei, assombrado porque de fato o cara falava comigo sem abrir a boca... dei uns tapas na minha cara para acordar daquilo que parecia ser um pesadelo e  já comecei a desconfiar de minhas percepções. Perguntei de novo, dando passos curtos e controlados: - Não entendi nada, meu chapa. Trabalhar o que? Do que você está falando?!
Então de repente a luz parecia titubear, olhei pra cima e fiquei horrorizado de ver que a sala não tinha sequer lustre... no escuro, dei uma meia volta e caminhei para aquilo que parecia ter sido a porta de entrada, sem ver nada, absolutamente nada. Que sensação mais horrível, tensa, daquelas que você não queria estar vivendo e nas quais, justamente, dá aquela vontade indiscreta de ir urgentemente ao banheiro. Então, ouvi de novo:
- Trabalhar com avantesmas!
-Tá, pode deixar que eu falo pra ele... e, meio que correndo, tipo, de medo,  consegui abrir o que parecia a porta pela qual entrei e saí para o corredor. Eu suava muito! Estava acabado! Parecia que tinha levado uma surra!!! Ao voltar-me para olhar a porta, putz... não tinha a campainha estropiada e pior, não tinha porta!!! 
Saí trôpego pelo corredor atrás do elevador e não via a hora de ir falar com o Marc... e dizer que esse troço dele pode ser meio que, tipo contagioso! 
Avantesmas!!! Era o que faltava... sei lá que porra era essa, mas eu só sabia de uma coisa: estava com medo!!!